Saturday, February 11, 2012

Os amigos do coração 1....

está um dia tão bonito, lá fora…..através da janela do meu quarto, vislumbro os raios de sol que, nos últimos tempos têm tentado combater o frio que se instala na atmosfera….entre estas quatro paredes, tento que, este mesmo sol consiga aquecer o meu coração….não passei uma noite descansada e o cansaço impede-me de encontrar ânimo para algo mais do que olhar pela minha janela….apenas escuto o silêncio e as teclas do meu computador, que cedem à pressão dos meus dedos, documentando os meus pensamentos…
…é mais um dia de nostalgia, retorno, de novo, ao passado e tento que sejam as boas recordações a aflorar e a aquecer o meu coração….a Luísa….ai a Luísa….conhecemo-nos no 2º ciclo, tinha ela acabado de chegar da África do Sul…tornou-se, de certa forma, um ídolo entre a rapaziada porque, vinha de um país tão distante e cujo conhecimento tínhamos, apenas, através do mapa mundi….credo, imaginar que a Luísa tinha vivido num continente daquele tamanho, fazia-nos sentir tão minúsculos e boquiabertos…..sim, nós pensávamos que toda aquela extensão de terra “pertencia” à Luísa….mais incrível ainda: a Luísa falava Inglês na perfeição e nem sei como não nos entravam mosquitos, moscas e insetos afins, pela boca dentro, tal era o pasmo com que a ouvíamos desenrolar a língua…..sim, porque os outros, pobres mortais, ainda andávamos a aprender o alfabeto com a Mrs. Collins- não, a nossa professora de Inglês era portuguesa mas bastante criativa, para a época, pois, fez-nos escrever num pedaço de cartolina, um nome Inglês, pelo qual passaríamos a ser tratados, naquela aula….é engraçado porque nem me lembro do nome verdadeiro da professora, nem tão pouco do meu nome fictício, mas nunca mais me esqueci da Mrs Collins…
….voltando à Luísa: era com um ar de inveja infantil que a víamos adiantar-se, sempre, nos trabalhos mandados executar pela professora, a competência linguística que ela demonstrava… enfim, tudo aquilo me fazia ansiar conseguir falar Inglês, tão bem quanto ela….
….foi nessa altura que começamos a criar laços….tínhamos algo em comum, que ainda hoje não consigo explicar muito bem mas que me parece, depois de tantos anos, já perceber um pouco melhor: eu sempre fui muito tímida e ansiava sempre que nunca dessem pela minha presença….pedia a todos os anjos e santos que os professores nunca me chamassem a participar nas aulas. Ao contrário de mim, a Luísa era espevitada, sempre de resposta pronta e, como os opostos se atraem, a Luísa conseguia sempre arrastar-me para os “projetos” dela….creio que era isso que nos unia…..
….fomos crescendo juntas…eu frequentava a casa dela, cujas portas estavam sempre abertas para nos receber….a mãe da Luísa, a D. Rosária, tinha uma paciência infinita para aturar a rapaziada que se juntava lá em casa….para ela, era como se fossemos todos filhos….era lá que eu vivia as festas de aniversário mais divertidas…era lá que nos mascarávamos no carnaval e, a D. Rosária, lá ía dando uns ralhetes mas, acabava sempre por nos ajudar a dar os últimos retoques…..
….quando eu e a Luísa já éramos pré- adolescentes, lembro-me que alguém disse, à socapa, que tinha conseguido surripiar o “9 semanas e meia”, um dos filmes com maior sucesso na época….hoje rio-me com gosto, porque pensávamos que era um filme pornográfico…moral da história: um dia que a D. Rosária se ausentou de casa, a maralha foi toda para a casa da Luísa ver o filme….os nossos olhos esbugalhavam-se perante as cenas protagonizadas por Kim Basinger e Mickey Rourke….todos concordámos que, de fato, aquele filme metia muita pornografia….que ingenuidade…..
….sempre juntas, eu e a Luísa frequentamos a escola, até ao 11º ano….depois, cada uma, seguiu percursos escolares diferentes. Apesar disso, nunca nos perdemos de vista e, apesar de não acreditar no destino, houve algo que nos voltou a juntar na universidade: frequentámos o mesmo curso, o estágio pedagógico (cuja aventura ficará para contar numa outra ocasião) e….a vida adulta, já com as suas responsabilidades inerentes….a infância e a adolescência já tinham ficado lá para trás, guardadas a sete chaves, na nossa memória, para abrirmos sempre que tivermos vontade……
….sempre que passo pela casa onde a Luísa vivia e a vejo sem vida, as lágrimas afloram aos meus olhos….parece que a tristeza se apoderou dela, porque nos perdeu o rasto, da idade da inocência….no fundo, tenho a certeza que as memórias ainda lá moram e um dia, aquela casa tomará forças para voltar a renascer……
….as nossas vidas tomaram rumos diferentes e, a distância geográfica afastou-nos fisicamente, mas tenho a certeza que os nossos corações nunca se separarão e, onde quer que a Luísa esteja, terá parte no meu, assim como o meu terá lugar no dela……


Clarisse