Monday, February 20, 2012

Cordão umbilical....

.lentamente, o velho comboio começou a soluçar, balançando-se com dificuldade para arrastar as carruagens que se lhe prendiam…..lentamente, começou a rolar e, no pequeno cais da estação, alcançavam-se, com a vista, algumas dezenas de mãos a acenar….dentro do velho comboio, coloquei a minha cabecita à janela e acenava para a minha mãe, enquanto as lágrimas me começavam a rolar pela carita pequena, quase totalmente escondida por uns óculos grandes e com o nobre objetivo de deixar que os meus olhos míopes vissem algo mais além do que a ponta do meu nariz…..
…..tinha seis anos e, pela primeira vez, estava a afastar-me do meu ninho, em direção a uma colónia de férias…..era suposto estar exultante de felicidade mas, pelo contrário, o meu pequeno coração ía ficando cada vez mais diminuto e apertado, à medida que o comboio, rolando com dificuldade pelos carris, me levava para longe….
….sentei-me e os meus soluços acompanhavam os das carruagens….a Filipa, três anos mais velha que eu, tentava consolar-me e contagiar-me com a felicidade que sentia por, pela primeira vez, ter a oportunidade de ver o mar…..ela estava mortinha de curiosidade por certificar- se se, de fato, a água do mar era salgada……e eu queria lá saber qual a dimensão do mar ou se a água era insosa ou salgada……a única certeza que tinha era que as minhas lágrimas, essas sim, eram salgadas e se o mar tivesse aquele gosto, de certeza que não seria nada de interessante, porque afinal de contas, quem poderá sentir-se feliz por algo que faz sofrer…….
….envolta nestes meus pensamentos infantis e com a minha cabecita tristemente encostada à janela do comboio, nem me dei conta de que havíamos chegado ao destino…..imediatamente detestei o local, obcecada pelas saudades que sentia da minha mãe…..se eu nessa altura soubesse a definição para “campo de concentração”, seria esse, certamente o nome que lhe daria: os miúdos iam saindo, às dezenas, das carruagens e eram colocados em fila, organizados em grupos que, depois, seriam entregues à responsabilidade de um monitor….
….a minha monitora ía gritando algumas palavras que, supostamente, seriam de boas vindas e para fazer um pequeno briefing do que iríamos fazer imediatamente a seguir….os meus pensamentos estavam tão longe dali!!!...não me lembro de nada do que ela disse…..as raparigas foram conduzidas para umas enormes camaratas, onde se alinhavam, junto à parede, pequenas camas individuais, cuja cabeceira servia de armário onde poderíamos guardar os nossos pertences…..sempre a chorar, coloquei lá um bolo que a minha mãe tinha feito com todo o carinho, na esperança que me pudesse adoçar a saudade mas, as lágrimas não paravam de cair….
….chegou a noite e a primeira grande prova de fogo: passar a primeira noite da minha curta vida, fora de casa….as lágrimas deixaram de parecer pingos de chuva e passaram a parecer-se com a corrente de um rio bravo…..tapava a boca com uma almofada para que não se ouvissem os soluços e o caudal que descia pelo meu rosto, era imenso……..
…..no dia seguinte, pela manhã, quando acordei, a minha cama estava coberta de formigas que tinham seguido o rasto, saboroso, do meu bolo……tentei afastá-las furiosamente: não, não me iam comer o que a minha mãe fizera com tanto amor……nessa altura pensei que as formigas também tinham sentimentos e que, provavelmente, as mães de algumas delas também já lhes tinham feito um bolo e sabiam o que eu estava a sentir…….embrulhei muito bem o bolo, e guardei-o novamente- tinha pena de o comer…..
….durante os quinze dias que passei na colónia de férias, os miúdos tinham imensas atividades: praia, trabalhos manuais, com ateliers próprios, onde havia uma quantidade inimaginável de materiais com os quais se podia brincar, materiais que eu nunca vira mas,…..enquanto as outras crianças se divertiam à grande, eu ditava mais umas palavras de saudade, para um postal que a Filipa, religiosamente, escrevia para a minha mãe, quase todos os dias, a meu pedido……
…..a tristeza e a saudade acabaram por ter os seus efeitos: fiquei doente, com febre e tive que ser internada na enfermaria……a minha cura estava longe dali…..foi lá que conheci a Paula, internada por verdadeiros motivos de saúde. Não me lembro de onde era a Paula, nem do seu aspeto físico mas, durante alguns dias ela foi o meu bálsamo: sentia-me confortada por ela, brincávamos as duas…ela respeitava os meus silêncios e estava logo ali, quando os meus olhos começavam de novo a brilhar, molhados pelas lágrimas…..quando saí da enfermaria senti, de novo, a tristeza de deixar para trás alguém que me tinha feito tão bem…..voltei a chorar, porque sabia que nunca mais iria ver a Paula, o meu anjo da guarda, durante aqueles dias……
…..porque será que a vida nos prega partidas tão cruéis, afastando-nos de pessoas que saram as nossas feridas…..voltei, finalmente, para casa e aí sim, começaram as minhas férias….abracei a minha mãe até quase a sufocar, enchi-a de beijos; continuava a chorar mas, desta vez, era de felicidade absoluta……tinha voltado para o meu ninho…..
…..passaram-se já muitos anos e sinto a tristeza de não ter dito à minha mãe o quanto a amava….o quanto me arrependo de não a ter conseguido entender, sempre que divergíamos de opinião…..de não a ter amparado sempre que ela precisou…….de não entender o amor imensurável que ela sentia por mim e que eu considerava doentio……
….agora que já sou mãe, sei que o cordão umbilical nunca se corta completamente, porque ele é uma extensão do nosso coração e da nossa alma……quero que o meu menino voe tão alto quanto as asas dele o permitirem, sabendo que o regaço da mãe estará sempre disponível para o acolher…….
…..tanto que eu sinto a falta do teu ninho, mãe……
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Saturday, February 11, 2012

Os amigos do coração 1....

está um dia tão bonito, lá fora…..através da janela do meu quarto, vislumbro os raios de sol que, nos últimos tempos têm tentado combater o frio que se instala na atmosfera….entre estas quatro paredes, tento que, este mesmo sol consiga aquecer o meu coração….não passei uma noite descansada e o cansaço impede-me de encontrar ânimo para algo mais do que olhar pela minha janela….apenas escuto o silêncio e as teclas do meu computador, que cedem à pressão dos meus dedos, documentando os meus pensamentos…
…é mais um dia de nostalgia, retorno, de novo, ao passado e tento que sejam as boas recordações a aflorar e a aquecer o meu coração….a Luísa….ai a Luísa….conhecemo-nos no 2º ciclo, tinha ela acabado de chegar da África do Sul…tornou-se, de certa forma, um ídolo entre a rapaziada porque, vinha de um país tão distante e cujo conhecimento tínhamos, apenas, através do mapa mundi….credo, imaginar que a Luísa tinha vivido num continente daquele tamanho, fazia-nos sentir tão minúsculos e boquiabertos…..sim, nós pensávamos que toda aquela extensão de terra “pertencia” à Luísa….mais incrível ainda: a Luísa falava Inglês na perfeição e nem sei como não nos entravam mosquitos, moscas e insetos afins, pela boca dentro, tal era o pasmo com que a ouvíamos desenrolar a língua…..sim, porque os outros, pobres mortais, ainda andávamos a aprender o alfabeto com a Mrs. Collins- não, a nossa professora de Inglês era portuguesa mas bastante criativa, para a época, pois, fez-nos escrever num pedaço de cartolina, um nome Inglês, pelo qual passaríamos a ser tratados, naquela aula….é engraçado porque nem me lembro do nome verdadeiro da professora, nem tão pouco do meu nome fictício, mas nunca mais me esqueci da Mrs Collins…
….voltando à Luísa: era com um ar de inveja infantil que a víamos adiantar-se, sempre, nos trabalhos mandados executar pela professora, a competência linguística que ela demonstrava… enfim, tudo aquilo me fazia ansiar conseguir falar Inglês, tão bem quanto ela….
….foi nessa altura que começamos a criar laços….tínhamos algo em comum, que ainda hoje não consigo explicar muito bem mas que me parece, depois de tantos anos, já perceber um pouco melhor: eu sempre fui muito tímida e ansiava sempre que nunca dessem pela minha presença….pedia a todos os anjos e santos que os professores nunca me chamassem a participar nas aulas. Ao contrário de mim, a Luísa era espevitada, sempre de resposta pronta e, como os opostos se atraem, a Luísa conseguia sempre arrastar-me para os “projetos” dela….creio que era isso que nos unia…..
….fomos crescendo juntas…eu frequentava a casa dela, cujas portas estavam sempre abertas para nos receber….a mãe da Luísa, a D. Rosária, tinha uma paciência infinita para aturar a rapaziada que se juntava lá em casa….para ela, era como se fossemos todos filhos….era lá que eu vivia as festas de aniversário mais divertidas…era lá que nos mascarávamos no carnaval e, a D. Rosária, lá ía dando uns ralhetes mas, acabava sempre por nos ajudar a dar os últimos retoques…..
….quando eu e a Luísa já éramos pré- adolescentes, lembro-me que alguém disse, à socapa, que tinha conseguido surripiar o “9 semanas e meia”, um dos filmes com maior sucesso na época….hoje rio-me com gosto, porque pensávamos que era um filme pornográfico…moral da história: um dia que a D. Rosária se ausentou de casa, a maralha foi toda para a casa da Luísa ver o filme….os nossos olhos esbugalhavam-se perante as cenas protagonizadas por Kim Basinger e Mickey Rourke….todos concordámos que, de fato, aquele filme metia muita pornografia….que ingenuidade…..
….sempre juntas, eu e a Luísa frequentamos a escola, até ao 11º ano….depois, cada uma, seguiu percursos escolares diferentes. Apesar disso, nunca nos perdemos de vista e, apesar de não acreditar no destino, houve algo que nos voltou a juntar na universidade: frequentámos o mesmo curso, o estágio pedagógico (cuja aventura ficará para contar numa outra ocasião) e….a vida adulta, já com as suas responsabilidades inerentes….a infância e a adolescência já tinham ficado lá para trás, guardadas a sete chaves, na nossa memória, para abrirmos sempre que tivermos vontade……
….sempre que passo pela casa onde a Luísa vivia e a vejo sem vida, as lágrimas afloram aos meus olhos….parece que a tristeza se apoderou dela, porque nos perdeu o rasto, da idade da inocência….no fundo, tenho a certeza que as memórias ainda lá moram e um dia, aquela casa tomará forças para voltar a renascer……
….as nossas vidas tomaram rumos diferentes e, a distância geográfica afastou-nos fisicamente, mas tenho a certeza que os nossos corações nunca se separarão e, onde quer que a Luísa esteja, terá parte no meu, assim como o meu terá lugar no dela……


Clarisse

Sunday, September 04, 2011

Se eu voltasse atrás.....

.mais um dia de sol abrasador….o alcatrão derrete, os cães vadios, sedentos e famintos procuram uma sombra onde se abrigar, do inferno que se abate injustamente sobre eles…..o silencio impera, porque ninguém se atreve, sequer, a espreitar a fornalha que emana do lado de fora. Eu sou apenas mais uma, aguardando que a noite traga algum sinal de alento e me afaste da letargia a que sou abandonada, fruto do excesso de calor. Sinto-me meio adormecida e, quase sem querer, os pensamentos transportam-me ao passado.
….relembro igualmente os dias escaldantes de verão, as férias passadas a sul e as longas pedaladas na bicicleta emprestada pela Ângela. Pedalávamos, debaixo de um sol abrasador mas as forças da juventude não nos faziam fraquejar nem tão pouco sentir o sol a cair sobre nós, impiedosamente.
….durante vários anos a Ângela foi a minha amiga e cúmplice, em tempo de férias. Partilhávamos segredos, desenvolvíamos estratégias de escape aos olhares atentos dos nossos pais, namoriscávamos os rapazes mais giros da praia e, terminadas as férias, tudo ficava enterrado no areal….. certamente, essas memórias felizes ainda lá estão guardadas, esperando com expectativa que alguém as desenterre….não percebem que isso jamais será possível.
….tinha tantos sonhos….queria ser bailarina e actriz. Costumava assistir às aulas de dança clássica de uma amiga, cujos pais tinham dinheiro para lhe proporcionar aquela atividade. Olhava com enlevo a elegância dos movimentos e a beleza dos Tutu e sapatilhas cor- de- rosa.
….quando chegava a casa, punha-me em frente ao espelho e tentava imitar tudo o que via. Era indescritível a magia e a felicidade que sentia naqueles momentos. Depois, a realidade tornava-se mais amarga….tudo não passava de um sonho, cuja hipótese de se realizar era remotamente possível…..
Durante os anos que se seguiram, o sonho não se extinguiu e, muitas vezes, quando adormecia, sonhava que estava em cima de um palco a dançar e a rodopiar, leve como uma pena, livre como um pássaro que aspira à liberdade…..
Continuo entorpecida pelo calor mas, o meu pensamento volta de novo a fazer rewind e regresso de novo à idade da inocência. Tudo era tão mais fácil….apenas me preocupava em viver e ser feliz. Recordo com saudade a vizinhança: a vizinha Bia, mulher de bom coração, mas temente a Deus, beata convicta que não perdia as missas nem na igreja da vila, nem tão pouco as que passavam no rádio. Engraçada a Bia, e ao mesmo tempo de atitudes tão contraditórias: adorava ver touradas na TV e era sempre o mesmo festival de gritos, acompanhados de “ai coitadinhos”….eu ria-me a bandeiras despregadas, porque já sabia que ela se estava a referir às pegas e à sova que os forcados levavam dos touros. Na realidade, ela pouco via dessas pegas, porque assim que o touro avançava para o forcado, ela tapava os olhos com as mãos e começava a gritar, sem perceber sequer o que se estava a passar, guiando-se apenas pela sua imaginação.
….pachorrento, o marido da Bia, o Xico, olhava-a com complacência e encolhia os ombros. Era uma óptima oportunidade para ele conseguir escapulir-se de casa e ir até à taberna da frente, beber o seu copinho de vinho. Claro que quando regressava e o cheiro a vinho chegava veloz às narinas da Bia, havia logo a continuação do arraial. Desta vez não por causa dos forcados, mas por causa do Xico e dos seus copinhos de vinho. Ele continuava a encolher os ombros e não lhe respondia; comportava-se como um menino pequenino, apanhado em flagrante, numa maldade. No entanto, eram os melhores pais do mundo, sempre dispostos a acudir às aflições das filhas. A Bia fazia quilos de bolos e arrebanhava tudo o que podia, para enviar uma encomenda bem recheada às suas raparigas.
Do lado esquerdo da minha casa, vivia um outro casal muito sui- generis: a Antónia e o José. Não tinham filhos. À semelhança da Bia, a Antónia adorava berrar com oJosé, porque também ele adorava os seus copos de tinto carrascão, apesar de os dele serem muito melhor abastecidos que os do Xico. O José tocava na banda da vila e o que eu mais gostava era de experimentar tocar o trombone que o acompanhava, religiosamente, para onde quer que ele fosse. Eu ficava desesperada, por não conseguir sequer arrancar dali uma nota e de ver a assistência a rir-se de mim, aquela miúda franzina que, obstinadamente, não queria deixar-se vencer por aquele colosso, que fazia duas vezes o seu tamanho. Acabei por perceber que a música não seria, definitivamente o meu futuro.
….quando o Xico e o José partiram, ambos vencidos pela cirrose, o meu mundo ficou mais pequeno. A tristeza abateu-se sobre a vizinhança, porque afinal de contas, eles eram como os ingredientes de um bolo: faltando um, o bolo já não fica igual, o seu sabor fica de longe mais empobrecido.
…..mais tarde, também a Bia e a Antónia foram para um lar, onde acabaram por falecer. Hoje olho para aquele bairro e, com tristeza, vejo que apesar do seu embelezamento arquitectónico, feito pelos novos inquilinos do casario, tudo me parece um monte de cinzas. Afinal de contas, as histórias da minha infância ficaram em escombros, abanaram os meus alicerces, suplantadas por novas paredes que não conseguem entender como estão a usurpar o lugar de várias vidas que ali foram felizes.
O meu corpo e a minha mente ficam cada vez mais entorpecidos, misturando a realidade com o sonho. Pouco a pouco os meus olhos vão-se fechando, mas ainda consigo escutar a letra de uma música, oportunamente a passar no rádio, ““se eu voltasse atrás, por minha vontade, trocava alguns anos desta vida por um só dia na tua idade”……
……acabei por adormecer e voltar de novo à infância……..


Clarisse

Friday, July 17, 2009

Sente......

Sentes o meu olhar?
A vontade de que leias em mim,
como se abrisses um livro de gravuras e passasses
delicadamente cada folha com os teus dedos húmidos de desejo e paixão.
Sentes as minhas mãos no teu rosto?

Estas mãos de que tanto te tocar imaginariamente
já sentem cada pedaço do teu corpo.
Sabes tocar violino?

Então toca cada corda do meu ser; seduz-me com as tuas mãos; faz-me vibrar.
Gostas do meu sorriso?

Então perde-te nele......sela-o com a tua boca.


Clarisse

Friday, September 19, 2008

...You.....

....give me your hand........
....let me fell your heart beating, full of madness........
....give me your hand........
....and fly through the stars.....
....give me your hand....
....and write a beautiful poem.....about you and me.....

CLARISSE

Friday, July 11, 2008

Carpe Diem, meu amor

Hoje celebro a Vida, aquela que cresceu dentro de mim e tem sido a minha Luz, ao longo dos últimos catorze anos.

A ti, meu eterno Amor, desejo que todos os caminhos que percorreres te conduzam à Felicidade e que te tornes num Homem de bem, imbuído de todos os valores que, agora, ainda adolescente já demonstras possuir.

Não me canso de repetir que te amo, da mesma forma que esta palavra, dita por ti, adquire os contornos da beleza do Universo ou das cores do arco- íris.

Amo-te imensuravelmente, filhote



Clarisse

Monday, November 26, 2007

http://www.jamendo.com/artist/animaux_de_la_lune/

Vale a pena escutar a beleza da música......música que fala por acordes mágicos......fechem os olhos e sonhem.......